“A
substituição tributária é um instrumento grosseiro, entre outros pontos, porque
dispersa a estrutura de produção”. Essa contundente frase foi pronunciada, não
por um líder empresarial contrário à sistemática, mas por Andrea Calabi,
secretário da Fazenda de São Paulo, o Estado que mais ampliou a prática de
cobrar antecipadamente o ICMS devido em todo o ciclo de comercialização de
mercadorias. O titular da Fazenda reconheceu os defeitos da substituição
tributária em evento para empresários, na Associação Comercial de São Paulo,
ocorrido em março.
Concebida
com o objetivo de facilitar a fiscalização e combater a sonegação, a
substituição tributária inicialmente era aplicada apenas a uma reduzida gama de
produtos que tinham preço final de venda ao consumidor tabelado ou definido
previamente. A partir de 2007, percebendo o potencial arrecadador do sistema, o
governo paulista resolveu explorar ao máximo o modelo assentado na substituição
tributária e passou a incluir centenas de novos produtos, sem qualquer cuidado
com sua natureza ou com sua estrutura de preços. Prevista para ser exceção, a
substituição tributária paulista inclui hoje cerca de 460 tipos de produtos
pertencentes a 30 e poucos setores, que vão de veículos automotores
a ração animal e barras de cereais.
A
sistemática aumentou muito a complexidade da já complicada estrutura do ICMS,
obrigando os contribuintes a manterem uma custosa estrutura administrativa para
atender às crescentes exigências do Fisco. E, pior que isso, a substituição
tributária intervém na liberdade do mercado, introduz distorções na estrutura
de produção e comercialização, no peso da carga tributária e na formação de
preços, prejudicando especialmente as empresas de menor porte.
Não é
por outro motivo que a Europa - onde surgiu a tributação de natureza
não-cumulativa que inspirou o ICMS - não quer nem ouvir falar na substituição
tributária chamada “para frente”, como a nossa, preferindo não interferir
indevidamente no mercado e nas relações comerciais dos contribuintes e
resistindo à tentação da arrecadação fácil e imediatista.
Ao
governo de São Paulo não favorece o argumento de que outros Estados também
utilizam a sistemática, pois aqui é o lugar onde a aplicação da substituição
tributária se tornou mais exacerbada, revelando uma estratégia oficial de
privilegiar, não a busca da melhoria da qualidade da tributação, mas o
imediatismo e a maximização da arrecadação a qualquer preço. O resultado dessa
política tributária é demonstrado nos números da própria Secretaria da Fazenda
paulista: enquanto a arrecadação total do ICMS cresceu, em valores reais,
29,80% no período de 2007 e 2011, o crescimento do ICMS recolhido por
substituição tributária disparou no mesmo período em 113,47% e passou de R$
7,213 bilhões em 2007 para R$ 15,399 bilhões em 2011 (valores correntes de
março/2012). A diferença ilustra o exagero que vem ocorrendo na utilização
intensa dessa ferramenta arrecadatória pelo governo de São Paulo.
Contudo,
ao comentar aos empresários do comércio que “provavelmente, com o tempo, essa
sistemática deixará de existir”, o secretário da Fazenda, Andrea Calabi, não
demonstra qualquer sentido de urgência do governo paulista em buscar
alternativas para superar os problemas provocados pela substituição tributária
na economia paulista e melhorar a qualidade da tributação. Ao contrário, a fala
do secretário deixa visível a intenção do governo do Estado de São Paulo de
manter até quando puder o modelo de arrecadação baseado na substituição
tributária, ainda que esse modelo revele sinais inequívocos de esgotamento,
além de contar com a crescente resistência do empresariado.
Fonte:
Incorporativa
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