O hábito de fumar narguilés (ou arguile),
cigarros e cigarrilhas com sabor está com os dias contados desde
março, quando a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
decidiu proibir a comercialização de fumo com aditivos no Brasil.
Para o tabaco
usado em narguilés e cachimbos, a decisão valerá a partir de março de
2014. Mas o que fazer diante da nova regra já é assunto entre os consumidores
desses produtos.
"Até existe
fumo sem sabor para narguilé", diz Raphael Barreiros, 23,
programador de software. Ele é autor do Blog do Arguile (blogdoarguile.com.br),
que tem cerca de 2.000 participantes. "Mas a graça está nos
aditivos."
A Folha acompanhou
um encontro de apreciadores de narguilé em São Paulo, organizado por
Barreiros. A proibição publicada pela Anvisa era tema das conversas.
A fumaça tragada
pelo grupo -cerca de 40 pessoas- tinha sabor de chá de pêssego, jaca, chocolate
e chiclete de menta. Parecia um ritual de churrasco: de quando em quando,
alguém mexia e virava o carvão aquecido.
"Isso é um
costume milenar. O governo não pode simplesmente proibir", diz.
A decisão da Anvisa sobre
o tabaco com aroma veio na onda da proibição de cigarros com sabor (que são 22%
das marcas no país), que passará a valer já a partir de setembro de 2013. De
acordo com a agência, o sabor incentiva os jovens a fumar.
"A regra da Anvisa é
contraditória porque a lei já proíbe cigarro para menores de 18", diz o
estudante Leonardo Magalhães, 19, que estava no encontro de Barreiros.
De acordo com a
agência, estudos mostram que há ainda mais agentes carcinogênicos na fumaça do narguilé do
que na do cigarro.
A quantidade de
nicotina é cerca de quatro vezes maior na fumaça do narguilé. A
concentração de alcatrão chega a ser 60 vezes mais alta.
A diferença está
no hábito do consumo. Segundo Barreiros, os apreciadores de narguilé fumam
em média uma vez por semana e em grupo, compartilhando a fumaça aspirada (na
Arábia Saudita, o fumo deve ser individual).
"Não é
oxigênio que o fumante inala, é fumaça. É óbvio que não faz bem", diz Ali Hajj,
importador de narguilé, de São Paulo. "Mas existe uma discussão sobre
como é feito o teste [das substâncias cancerígenas] por litro de fumaça",
afirma.
Hajj importa
20 mil aparelhos por ano de países como China, Líbano e Egito. Os preços vão de
R$ 25 a R$ 3.500.
Já o fumo, que
costuma ser comprado na internet diretamente pelos consumidores, vem da Índia,
dos Emirados Árabes, do Egito e dos EUA.
"Quem compra são adultos.
Só 5% deles têm ascendência árabe", diz o comerciante, de família
libanesa.
De acordo com o
charuteiro e empresário Beto Ranieri, da Ranieri Pipes, a determinação da Anvisa não
faz sentido quando o assunto é cigarrilha ou fumo para cachimbo. Isso porque
quem consome esse tipo de produto não é jovem.
"Meu cliente
mais novo de tabaco de cachimbo [que tem sabor] deve ter 75 anos de idade. Um
público dessa idade não vira fumante porque se sentiu atraído pelo gostinho de
chocolate do tabaco."
Fonte: Folha Online
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