SÃO PAULO — Os clientes que
foram na segunda-feira aos bancos para ter informações sobre as novas taxas de
juros saíram decepcionados. A principal reclamação é que, para usufruir de
menores percentuais anunciados nas propagandas, é preciso cumprir uma série de
requisitos. As “pegadinhas” vão desde a aplicação do juro menor apenas para
empréstimos de prazo muito curto até a exigência de um tempo mínimo de conta no
banco.
Em uma agência visitada ontem
pelo GLOBO em São Paulo, um cliente que não se identificou disse que “não é
como está na propaganda”. Até os gerentes concordaram com o comentário dos
correntistas e alertam que há “muitas pegadinhas” nos novos anúncios.
A primeira instituição a
anunciar a redução dos juros para financiamentos de veículos, crédito
consignado e crédito direto ao consumidor (CDC) foi o Banco do Brasil, no
último dia 4. No dia seguinte, foi a vez da Caixa que, além dos financiamentos
para Bens diversos, diminuiu as taxas de cheque especial e cartão de
crédito. Pressionados pelo governo, os bancos privados decidiram seguir o mesmo
caminho, com mudanças em linhas como financiamento de veículos, crédito
consignado e CDC. Com exceção do Santander, nenhum privado baixou os juros do
cheque especial e do cartão.
Na maior parte das propagandas,
os bancos publicam a taxa mínima que será praticada numa operação.
No entanto,
o valor real é calculado segundo o perfil do cliente. Na Caixa, por exemplo, o
panfleto que divulga os juros menores diz que o cheque especial tem taxa a
partir de 1,35% ao mês. Mas o cliente que resolver abrir conta na Caixa para
usufruir o benefício vai obter taxa de 4,45% mensal no limite da conta.
— Os juros menores são para
clientes que já têm relacionamento antigo com o banco — diz a gerente de uma
agência na Zona Sul paulistana, ressaltando que, caso o cliente receba salário
pela Caixa, a taxa do cheque especial pode cair para 3,5% ao mês.
Gerente dá informação errada
No Bradesco, em uma das três
agências visitadas pelo GLOBO, na Zona Oeste da cidade, o gerente não sabia
nada sobre as novas taxas:
— É possível voltar amanhã?
Estamos esperando o comunicado chegar no sistema para colocarmos as novas taxas
em prática.
A informação dada por ele está
incorreta, segundo a assessoria de imprensa do Bradesco. E para evitar esse tipo
de problema, o banco informa que está reforçando a comunicação com sua rede de
agências. O Bradesco iniciou ontem a aplicação de novas taxas para
financiamento de veículo (a partir de 0,97%); crédito pessoal (queda de 2,66%
para 1,97% ao mês); e CDC Bens (de 3,54% para 2,97% ao mês).
— Mas a taxa de 0,97% ao mês
para o financiamento de veículo só vale para quem dividir o pagamento em quatro
vezes — alertou a gerente de outra agência na Zona Oeste de São Paulo.
Antonio de Oliveira Siqueira,
de 44 anos, dono de um pequeno restaurante na Capital paulista, foi à
agência do Bradesco verificar se a taxa do LEASING de sua van cairia.
Hoje, ele paga 1,89% ao mês. Na agência, porém, foi informado que não seria
contemplado com a redução porque oLEASING já está feito:
— Não recebi nenhuma notícia
animadora aqui. Vou checar no Banco do Brasil, onde também tenho conta.
Para conseguir melhor taxa no
financiamento de veículos no banco estatal, porém, o cliente precisa estar com
todas as informações relativas ao carro, já que não há um valor padrão.
— Não dá para dizer qual é a
taxa porque varia muito de um automóvel para outro — disse a gerente de uma
agência do BB na Zona Oeste.
No BB, os juros para o uso do
limite de crédito no cheque especial passou a variar entre 1,38% e 8,31%. Mas,
para ter a taxa menor, é preciso cumprir alguns requisitos, como ter aplicação
no banco e ser beneficiário do INSS. Na média, o cliente pode conseguir uma
taxa de cerca de 3%, desde que esteja usando mais de 50% do limite e há dois
meses. Assim, a dívida no cheque especial é transformada em um CDC, a ser pago
em 24 parcelas.
— O juro do cheque especial
não caiu de verdade. Eles apenas parcelam o que você está devendo com uma taxa
menor. Não é o que eu precisava — retrucou Valter Roberto, Corretor de
imóveis de 63 anos.
No HSBC, os gerentes
informavam as novas taxas de cheque especial para cada perfil de cliente. A
assessoria de imprensa da instituição, por sua vez, esclarece que o recuo no
juro do limite da conta foi feito em março, quando a Taxa Básica de
juros (Selic) caiu para 9,75% ao ano.
O HSBC informa, por meio de
sua assessoria de imprensa, que a tabela vigente, a partir do último dia 12, é
de taxas de 1,99% a 5,93% ao mês para crédito pessoal; de 0,98% a 2,55%, para
financiamento de veículos; e de 0,99% a 4,70% ao mês para crédito consignado.
No Santander, o gerente de uma
agência na Zona Sul da Capital paulista informou que, desde ontem, o
juro do cheque especial caiu. O novo produto tem taxas de cheque especial que
variam de 4% a 8% ao mês, mas quanto menos o cliente utilizar seu limite, menor
será o juro.
Relação antiga para ter taxa
reduzida
No Itaú Unibanco, um gerente
disse que os juros baixos para empréstimos ficaram restritos à modalidade do
consignado, voltada a aposentados e pensionistas que recebem pelo banco. No
caso da linha de financiamentos para veículos, a taxa reduzida de 0,9% ao mês,
segundo ele, só é válida para clientes com mais de um ano de conta na
instituição.
E é preciso ficar atento às
taxas por uma razão simples: o cliente que não obtiver a taxa mais vantajosa
oferecida pela instituição ainda pagará caro para tomar crédito. Uma pesquisa
da Anefac, considerando as taxas de juro mínimas e máximas divulgadas pelos
bancos, chegou a diferenças impressionantes. Quem comprar um carro no valor à
vista de R$ 60 mil, em 48 parcelas, pagando juro de 4,23% ao mês (a taxa máxima
oferecida pelo Bradesco), desembolsará R$ 141.144,20 pelo bem. O carro sai por
R$ 75.333,39, se o cliente obtiver a taxa mínima do mesmo banco, de 0,97%. A
diferença é de mais de R$ 65 mil no
Preço final do bem.
Para justificar tanta
diferença entre a taxa mínima e a máxima, os bancos alegam que precisam avaliar
o comprometimento da renda do cliente, que indica o potencial de inadimplência,
o histórico do relacionamento com a instituição, e o próprio produto oferecido.
Num empréstimo consignado, por exemplo, o Risco para o banco de levar
um calote é muito menor do que no rotativo do cartão. Isso porque a parcela do
empréstimo é descontada diretamente na conta do cliente.
Leia mais sobre esse assunto
em
http://oglobo.globo.com/economia/as-pegadinhas-por-tras-das-reducoes-das-taxas-de-juros-4719108#ixzz1sy9pejA5
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Fonte:
O Globo
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