Com frustração das expectativas oficiais para
a arrecadação de impostos, o governo vai anunciar nos próximos dias que suas
contas tiveram no primeiro semestre um resultado inferior ao do mesmo período
do ano passado.
O impacto da estagnação da economia na receita
tributária já põe em xeque o cumprimento das metas da política fiscal para
2012, mesmo sem a prometida aceleração dos investimentos em infraestrutura --e
com o Planalto sob pressão dos servidores por reajustes salariais.
Dados preliminares em análise na área técnica
apontam que impostos e contribuições ligados ao lucro das empresas, à produção
industrial e às operações bancárias repetiram em junho o desempenho abaixo do
esperado que já havia sido apurado no mês anterior.
A piora comprometeu o superavit primário, ou
seja, a diferença entre a arrecadação e as despesas com pessoal, programas
sociais, obras e custeio administrativo.
Salvo algum ajuste contábil ou a inclusão de
receitas extraordinárias, o superavit de janeiro a junho ficará abaixo dos R$
55,5 bilhões contabilizados no primeiro semestre de 2011.
Será a primeira vez no governo Dilma Rousseff
em que o resultado acumulado no ano mostra queda em valores nominais.
A União busca neste ano um superavit de R$ 97
bilhões para o abatimento da dívida pública, R$ 4 bilhões acima do obtido em
2011.
Se considerados também Estados, municípios e
estatais, o objetivo é elevar essa poupança de quase R$ 130 bilhões para R$ 140
bilhões, ou o equivalente a 3,1% do Produto Interno Bruto.
Não por acaso, investidores e analistas já
começam a prever o descumprimento da meta. Em apenas três semanas, a aposta
central do mercado, segundo pesquisa do Banco Central, caiu para um superavit
de 2,95% do PIB.
PRESSÕES
Ainda que não haja no horizonte riscos de uma
escalada da dívida pública, a piora das contas alimenta tensões econômicas e
políticas no governo Dilma.
No primeiro caso, porque a equipe econômica
busca recuperar a credibilidade das metas de superavit, que no final do governo
Lula só foram atingidas à base de truques de contabilidade e mudanças na
legislação para produzir receitas extras.
Anunciou-se, no ano passado, que o aperto
fiscal seria intensificado para fortalecer o controle da inflação e permitir
uma queda mais aguda dos juros do Banco Central.
Hoje, no entanto, há pressões internas para
reduzir o superavit e estimular o consumo e o investimento.
No campo político, a presidente não pode mais
contar com os esperados recordes de arrecadação para atender a demandas
crescentes, que incluem liberação de recursos de interesse de prefeitos em ano
eleitoral, obras de infraestrutura e reajustes para o funcionalismo público.
REVISÃO
Devido ao impacto da crise econômica global,
o Executivo já havia reduzido em R$ 10 bilhões sua previsão para a arrecadação
de impostos no ano --com a intenção de compensar a perda com receitas não
tributárias, como privatizações e dividendos das empresas estatais.
No entanto, as estimativas mais recentes,
feitas em maio, foram frustradas já nos dois meses seguintes, devido aos
resultados do Imposto de Renda, da CSLL (incidente sobre o lucro das empresas),
do IPI (sobre a produção da indústria) e do IOF (sobre operações financeiras).
Numa amostra dos principais tributos
administrados pela Receita Federal, excluída a contribuição previdenciária, a
arrecadação do terceiro bimestre ficou R$ 3 bilhões abaixo do esperado.
Fonte:
Folha de São Paulo
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