Quando o governo disse que
podia fazer transformações na forma de rendimento das cadernetas de poupança,
pequenos poupadores começaram a se preocupar. O temor vai além da redução dos
ganhos com a correção. A maioria tinha medo de que impostos fossem vinculados à
aplicação financeira mais popular do país.
As mudanças anunciadas ontem
servem como um alívio para os poupadores. Pouca coisa mudou, mas mesmo assim é
possível sentir pequenos efeitos.
Segundo o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, as novas regras não afetam os interesses e benefícios dos
correntistas. No entanto, nada é tão simples assim. Caso a Poupança se
torne desvantajosa, as pessoas serão obrigadas a migrar para Investimentos mais
arriscados para conseguir aumentar o patrimônio, como aplicações em Bolsa de
Valores.
A princípio, com a previsão da Selic chegar
a 8,5% ao ano, realmente o reflexo será quase indolor. A diferença entre a
atual norma e a atual regra para um depósito de R$ 1 mil com prazo de 12 meses
é de R$ 1,27. Se a Selic chegar a 7%, por exemplo, a perda será de R$
12,61.
O Economista Laudeir
Frauches, especialista em finanças de A GAZETA, afirma que para fazer impacto o
governo poderia ter ampliado o prazo para corrigir os depósitos. "Em vez
de remunerações mensais, a medida poderia estabelecer que a cada seis meses o
poupador seria remunerado", diz.
O professor da Fucape e também
PHD em Economia, Cristiano Machado Costa, acredita que a medida do governo pode
deixar também os poupadores um pouco confusos.
"Como é proibido mexer no
que está na poupança, a solução foi mudar as regras para os novos depósitos,
mas acredito que muita gente vai ficar em dúvida e sem saber como os bancos vão
diferenciar uma aplicação antiga da nova", destaca.
Para Costa, não havia mais
como o governo manter uma regra antiquada para a caderneta, apesar de ela não
trazer vantagem nenhuma para quem é poupador. "As pessoas que forem tomar
empréstimos é que serão beneficiadas", diz.
Outro reflexo é na redução de
depósitos para o consumo. "Muita gente pode achar que não vale a pena ter Investimento ou
poupar e por isso vai decidir consumir. Se isso acontecer, a quantidade de
saques pode ultrapassar as aplicações. Não é possível dizer ao certo, mas é
provável que os financiamentos imobiliários sejam afetados".
FGTS e dívidas são obstáculos
no caminho
O mercado enxerga com otimismo
as mudanças na Poupança para motivar reduções na taxa de juros. Só
que esse tempo de “esperança” será bem curto, na visão do Economista Laudeir
Frauches.
Para a Selic se
manter baixa, novas barreiras terão que ser rompidas. “A Poupança foi
o primeiro obstáculo. Agora existem outras questões, como o fundos de pensão,
de garantia, de amparo ao trabalhador e a dívida dos Estados e municípios”,
diz.
Outro problema é a inflação.
Por mais que dure pouco o período de bonança, o consumidor poderá aproveitar
para gastar e fazer novos empréstimos devido à queda nos encargos. “O governo
terá que encontrar uma forma de segurar o movimento de alta dos preços.
Para Frauches, outras medidas
poderiam ter sido tomadas também para colocar um freio nas correções dos
créditos, como o cadastro positivo. Apesar de estar aprovada, a Ação ainda
está restrita a bancos de dados particulares. Hoje, as instituições financeiras
reivindicam um cadastro universal, gerenciado pelo Banco Central. Isso
provocaria a concorrência e como consequência a redução nos juros praticados no
mercado.
“O governo deveria também
reduzir o valor do Depósito compulsório e também cobrar dos bancos
mais transparência. Hoje, o consumidor vive num período de insegurança. Não há
transparência. O cliente não sabe como a instituição utiliza seu dinheiro”,
diz.
Outro problema que Frauches
destaca é a falta de reserva interna para controlar a economia. “O país quer
controlar a entrada de dinheiro estrangeiro, mas ao mesmo tempo depende dos
recursos externos para investir. Com a recuperação da Europa, os juros vão
voltar a subir por lá e para não perder investidores de fora, o governo
precisará subir novamente a taxa de juros. A Dilma está aproveitando enquanto
pode para cortar juros”, diz. (Mikaella Campos)
Fonte:
Gazeta On Line
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