Apesar dos recordes de arrecadação
anunciados pela Secretaria da Receita Federal (RFB), a luz amarela acendeu nos
principais gabinetes da área econômica do governo, pois a receita obtida com
tributos federais no primeiro quadrimestre deste ano é bastante inferior à
projetada no decreto de programação orçamentária e financeira.
A frustração da receita - ou seja, a
diferença entre o valor projetado pela RFB e o efetivamente obtido - ficou
entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões no primeiro quadrimestre deste ano, segundo
fontes do governo. A receita bruta é aquela antes das transferências
constitucionais a Estados e municípios. A frustração decorreu,
fundamentalmente, da redução da lucratividade das empresas, principalmente as
industriais, pois o tributo mais afetado foi o Imposto de Renda (IR).
Se essa frustração não for compensada
pelo aumento de outras receitas (como os dividendos e os royalties do petróleo,
por exemplo) e se não houver reestimativa da projeção das despesas, o governo
poderá até mesmo ser forçado a ampliar o contingenciamento das dotações
orçamentárias para cumprir a meta de superávit primário. Essa questão será
esclarecida nos próximos dias, quando for divulgado o relatório de avaliação de
receitas e despesas relativo ao segundo bimestre.
Frustração da receita pode superar R$
10 bilhões
A boa surpresa é que está ocorrendo um
forte aumento da arrecadação da Previdência Social, mas as despesas nessa área
também estão crescendo muito. Em abril, ao encaminhar o Projeto de Lei de
Diretrizes Orçamentárias (PLDO), válido para 2013, o governo informou que
trabalha com uma arrecadação estimada em R$ 274,1 bilhões para a Previdência
neste ano. No último decreto de programação orçamentária e financeira, de
março, o valor projetado para a arrecadação previdenciária era de R$ 269,3
bilhões. Ou seja, de um mês para o outro o governo ampliou em R$ 4,8 bilhões a
sua estimativa para a receita da Previdência em 2012.
Do lado das despesas, a estimativa que
consta do decreto de programação orçamentária e financeira de março é de gastos
com benefícios previdenciários de R$ 308,4 bilhões neste ano. No PLDO, a
projeção para essas despesas subiu para R$ 314,5 bilhões - um aumento de R$ 6,1
bilhões, em apenas um mês. Enquanto os gastos foram impactados principalmente
pelo forte aumento do salário mínimo, as receitas estão sendo beneficiadas pelo
crescimento da massa salarial neste ano, estimado em 12%.
Quando elaborou a sua projeção para
este ano, a Receita Federal trabalhou com um crescimento nominal de 11,34%. A
arrecadação bruta dos tributos administrados pela RFB (exceto a contribuição
previdenciária) subiria de R$ 628,6 bilhões, em 2011, para R$ 699,9 bilhões
neste ano. O comportamento registrado no primeiro quadrimestre mostra, no
entanto, um crescimento de cerca de 10%.
Mesmo essa expansão de 10% está sendo
influenciada pelo primeiro bimestre, quando a arrecadação foi melhor. O
resultado obtido no segundo bimestre aponta alta em torno de 8,5%. Se a
arrecadação administrada pela RFB crescer 10% neste ano, haveria uma frustração
da receita em torno de R$ 8,5 bilhões. Mas se a tendência for a registrada no
segundo bimestre, a redução em relação ao programado será muito maior.
É importante observar que um
crescimento nominal de 10% da receita com tributos neste ano é um resultado
excepcional, principalmente em virtude do fraco desempenho da economia. O
problema é que a projeção feita pela RFB de crescimento de 11,34% da receita
serviu para definir as despesas da União neste ano. Essa frustração poderá ter
impacto negativo na administração financeira e orçamentária.
O fraco desempenho da economia brasileira
em 2011 e no início deste ano afetou a lucratividade das empresas e, em
decorrência disso, a arrecadação tributária. A frustração com a arrecadação do
Imposto de Renda (receita projetada menos receita observada) é superior a R$ 4
bilhões no primeiro quadrimestre deste ano, de acordo com estimativas oficiais.
A arrecadação com a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), que também
reflete a lucratividade, apresentou uma frustração de mais de R$ 2 bilhões, no
mesmo período.
Os tributos que refletem mais
diretamente o ritmo da atividade econômica, como a Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e o Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), também registraram frustração expressiva. A RFB
esperava arrecadar R$ 28,6 bilhões com a Cofins no segundo bimestre, mas a
previsão é de que essa receita não chegue a R$ 27 bilhões. No caso do IPI, a
frustração da receita chega próximo a R$ 1 bilhão.
Ao contrário do que ocorreu no ano
passado, quando a excepcional arrecadação permitiu que o governo fizesse um
superávit adicional de R$ 10 bilhões, essa margem parece não existir neste ano.
A menos que o governo consiga, nas numerosas ações judiciais que move para
recuperar tributos não pagos, uma expressiva receita adicional. Na verdade, o
governo poderá ter dificuldade em obter o superávit primário de 3,1% do Produto
Interno Bruto (PIB) em 2012, se não houver recuperação do ritmo da atividade
econômica.
Fonte: Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário