quarta-feira, 30 de maio de 2012

Mudanças no ICMS exigem explicações


        Os desdobramentos do fim da guerra fiscal entre os Estados depois da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de julgar pela inconstitucionalidade de dezenas de leis estaduais que concederam incentivos fiscais e financeiros do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), sem o aval do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), mobilizam o meio jurídico.
Nesta semana, o STF deve publicar uma súmula vinculante sobre o assunto. A expectativa é saber o alcance da decisão nos cofres dos Estados envolvidos e, também, no caixa das empresas que durante anos se beneficiaram das benesses fiscais. Será que elas terão de devolver o imposto não recolhido? Como ficarão os contratos já firmados com Estados que concederam os benefícios?
O assunto está sendo levado nesta semana à reunião da comissão de especialistas instalada no Senado Federal – da qual faz parte o jurista Ives Gandra Martins – que terá a missão de discutir um novo pacto federativo no País. "Para evitar um caos econômico, os incentivos passados devem ser perdoados. E a eficácia da inconstitucionalidade deve ser dada a partir de agora", defendeu o jurista. 
O nó da questão – Para especialistas, o ICMS é o imposto mais problemático do sistema tributário brasileiro, cuja reformulação voltou a ser discutida semana passada em Congresso da Academia Internacional de Direito e Economia, sob o tema "A Reforma Tributária Possível". O objetivo do congresso foi captar a visão que empresários, fisco, economistas e juristas têm sobre a reforma tributária e formular propostas de consenso capazes de modificar o modelo tributário. O assunto é discutido há mais de 20 anos no País, mas agora volta com força não só por conta dos últimos capítulos da guerra fiscal, mas também pelo alto custo tributário e burocrático imposto às empresas brasileiras.

Ajustes necessários – O ex-secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, que integra atualmente o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), admitiu que a carga tributária gera um ambiente desconfortável, assim como a burocracia. Ele acredita ser possível fazer ajustes no sistema e redistribuir a carga tributária sem mexer na Constituição e no ICMS, que ele classifica como um campo minado. "No caso do Imposto deRenda, é possível reduzir a alíquota, a base de cálculo ou modificar os limites de dedução por meio de leis ordinárias", sugeriu Cartaxo.

Folha de salários – A mesma opinião tem outro ex-comandante da Receita, Everardo Maciel, que também afastou qualquer chance de alteração profunda no sistema tributário por falta de consenso. "Há soluções simples sem a necessidade de modificar a Constituição", disse, ao se referir também a medidas de simplificação. Ele sugeriu, por exemplo, a ampliação da redução da incidência tributária sobre a folha de salários, medida que o governo vem adotando para alguns setores, o que pode ser feito por meio de lei complementar. 

Everardo Maciel também defendeu o estabelecimento de limites na adoção da sistemática da substituição tributária do ICMS, ou o uso com "parcimônia". "Produtos sujeitos a vários canais de distribuição e, portanto, com margens heterogêneas de lucro, não podem entrar nessa sistemática", explicou. 
Presente ao evento como debatedor no painel "A reforma possível na visão das entidades federadas", o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, defendeu uma reformulação total do sistema tributário, mas ressaltou que isso só vai acontecer com a participação e mobilização da sociedade. De acordo com o vice-governador, a paralisação dos investimentos nos países mais ricos decorrente da crise na Europa e nos Estados Unidos abre para o Brasil uma grande oportunidade de captação de recursos e também na reformulação de políticas voltadas ao crescimento. "É preciso eliminar toda a carga tributária sobre os investimentos", sugeriu, ao defender um novo pacto federativo. "A União fica com 60% do bolo tributário, Estados, com 25% e os municípios, com 15%. É uma grande distorção", concluiu.

Fonte: Diário do Comércio

Nenhum comentário:

Postar um comentário